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Por Arthur Jorge Costa Pinto
Sempre que o homem primitivo desejava algo que
estava em poder de outra pessoa, ele tinha duas opções para obtê-lo: ou
roubá-lo, ou adquiri-lo por meio de uma permuta. O sistema de troca direta,
também chamado de “escambo” (atividade que envolve a troca de mercadorias por
outras ou produtos, sem envolver dinheiro) apresentava um grande inconveniente,
já que era difícil haver uma coincidência entre a vontade do comprador e a do
vendedor.
Com a descoberta dos metais - ouro, prata e cobre,
ficou demonstrado que utilizá-los como moeda de troca era a melhor forma de se
instituir um sistema monetário. Primeiramente, eram usados em formato de
linguetas ou barras, mas ao longo do tempo foram adquirindo formas e
inscrições. Segundo a maioria dos pesquisadores, a moeda em seu formato atual
de disco metálico surgiu no século VIII a.C., na Lídia, atualmente território
turco.
O papel-moeda só veio a aparecer na Idade Média, quando
os comerciantes dessa época começaram a guardar seus valores (ouro, prata,
joias)com os ourives e recebiam um recibo em papel como comprovante, tornando-o
um documento que passava a valer dinheiro.
No curso da existência do “vil metal”, o primeiro
banco só surgiu no fim do século XVII na Inglaterra. No início, o método era
igual; os indivíduos levavam seus valores (ouro, prata, joias) para o banco e
recebiam um recibo que garantia a entrega. Esse sistema prevaleceu por muitos
séculos e foi seguido por outros países.
Atualmente, o debate está interessante entre
economistas europeus que advogam o fim das cédulas e moedas, alegando que elas
produzem custos e ausência de transparência. Contudo, os críticos desta tese
argumentam que o dinheiro em “espécie” representa uma das formas de expressar -
a liberdade.
Somente uma minoria colocaria em dúvida o poder do
dinheiro, que faz o sistema global girar. Será que é indispensável haver uma
conformação física para as cédulas e moedas? Pensando melhor, são simplesmente
pontos no sistema de controle que envolve débitos e créditos sustentados pelas
instituições bancárias.
Quando o cliente solicita determinada quantia ao
caixa de um banco, ele receberá cédulas e, consequentemente, será abatido da
sua conta corrente o valor do saque realizado. Logo fica uma pergunta: porque
então manusear recursos vivos, se atualmente a grande maioria dos indivíduos
possui cartões de crédito e de débito, telefones celulares e acesso a
transações eletrônicas através de sites bancários?
Talvez, não seria mais racional, suprimir todas
essas toneladas de papel moeda e moedas metálicas substituindo-as por um
sistema totalmente eletrônico? Elas passariam a ser lembradas apenas como uma
forma de souvenir e apreciadas nos museus numismáticos dos países.
A discussão sobre a matéria vem se alongando há
algum tempo. Mas agora, economistas alemães abraçaram com determinação o
assunto, transparecendo urgência à questão. Um dos principais consultores
econômicos do governo alemão, Rolf Bofinger, afirmou que “as notas bancárias
são ‘um anacronismo’ a ser substituídas brevemente”.
O seu raciocínio envolve desde a impressão até a
circulação do dinheiro “vivo” que produzem custos elevados, permitindo que o
giro monetário continue alimentando as longas e cansativas filas diante dos
caixas, acarretando significativo desperdício de tempo.
Outra questão importante é que a extinção das
cédulas e moedas implicaria em um golpe crucial nas operações efetuadas no
mercado negro, reduzindo a violência, o roubo, a corrupção, a lavagem de dinheiro,
o tráfico de drogas e praticamente extinguindo a sonegação e, especialmente, a
vigorosa “economia das “sombras”.
Estudos recentes confirmaram que o montante de
dinheiro em circulação nos países da OCDE (Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico) ultrapassa totalmente o que pode ser atribuído à
aplicação legal dentro da sua economia interna.
A ideia implícita tutelada por Kennet Rogoff da
Universidade de Harvard e economista-chefe do Fundo Monetário Internacional
(FMI) é que uma boa parte do dinheiro físico é o grande facilitador das
transações anônimas. De acordo com ele, a particularidade fundamental é de que
nem o comprador e nem o vendedor necessitam saber sobre a origem dos recursos,
oficializando o perigoso anonimato.
Em contrapartida, o dinheiro eletrônico permitirá
um controle bem maior aos governos e autoridades legais, favorecendo as
transações que poderiam ser facilmente rastreadas, facilitando a sua
localização com eficiência e agilidade.
Quando Bofinger externou a sua grande expectativa
de que o dinheiro brevemente seria um símbolo do passado, diante de tamanha
exaltação, o Dr. Lars Feld, professor de Política Econômica da Universidade de
Freiburg (Alemanha), imediatamente contestou: “as cédulas bancárias são uma
forma de ‘liberdade impressa”. Segundo o mestre, elas seriam uma “prerrogativa
dos cidadãos”, como um jeito de fugir a um controle total do Estado.
Segundo alguns observadores econômicos, atualmente
parecem ser mínimas as chances de o dinheiro físico desaparecer rapidamente da
Alemanha, uma vez que o apoio popular a tal medida é insignificante. De acordo
com uma pesquisa atual realizada pelo Deutsche Bundesbank (Banco Central da
Alemanha), os consumidores alemães ainda não compraram a ideia, preferindo
efetuar seus pagamentos em “espécie”, embora eles jamais desconsiderem os
avanços tecnológicos já existentes no mercado.
A autoridade monetária alemã também declarou que
79% de todas as transações individuais em 2014 foram feitas através de cédulas
e moedas. Nesta estatística, de acordo com o relatório, não existe referência
ao total de euros em questão, já que sinaliza, exclusivamente, o número de
compras e vendas realizadas. Carl-Ludwig Thiele, atual presidente do Deutsche
Budesbank, ressaltou que até o momento, não está sendo cogitada qualquer medida
a fim de restringir a utilização do dinheiro físico dentro do país.
O tradicional diário alemão de circulação nacional,
Frankfurter Allgemeine Zeitung, apresentou um panorama completamente diferente
na Escandinávia. Apenas uma minoria ainda se encontra presa à utilização do
dinheiro “vivo”, pouco utilizado em compras na Finlândia, Suécia e Dinamarca.
Diante disso, abriu-se um ambiente favorável para uma campanha liderada por
banqueiros e políticos com fortes argumentações para a sua extinção.
O governo dinamarquês já avançou no mês passado,
apresentando um projeto de Lei que autoriza pequenas lojas, postos de
abastecimento e restaurantes a não receber dinheiro em “espécie”. Logo, a sua
aprovação pelo Parlamento será mera formalidade.
Os cristãos se referem ao Apocalipse (13:16 a 18)
da Bíblia, declarando que durante o reinado do “anticristo”, o dinheiro será
substituído por um sistema eletrônico, numa analogia metafórica que busca uma
conexão de sentido entre ambos. -“E faz que a todos, pequenos e grandes, ricos
e pobres, livres e servos, lhes seja posto um sinal na sua mão direita, ou nas
suas testas, para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tiver o
sinal, ou o nome da besta, ou o número do seu nome. Aqui há sabedoria. Aquele
que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é o número de um homem,
e o seu número é seiscentos e sessenta e seis”
De acordo com alguns estudiosos, quanto à extinção
das cédulas e moedas, eles colocam uma ressalva fundamental. Um sistema
eletrônico exclusivo de pagamento requer considerável empenho de vários
protagonistas econômicos. Dar início a um sistema dessa natureza dentro de um
aspecto unilateral, sem dúvida, torna-se arriscado, uma vez que os recursos de
um determinado país poderiam conquistar popularidade em outros que já tivessem
abortado suas cédulas e moedas.
Assim, qualquer tentativa dentro dessa linha
deveria implicar em um Tratado que envolvesse as principais moedas mundiais.